sábado, 12 de dezembro de 2009

Ética nas Organizações

Organizações constroem sua própria moral.

O conceito de responsabilidade social, entendido como compromisso de retribuir como bem-estar social ao uso dos recursos sociais e naturais, articula-se no modelo teórico referencial de Business Ethics na dimensão da ética de responsabilidade, entendida como a preocupação com as conseqüências de seus atos sobre os seres humanos, numa visão integrada de dimensões econômicas, ambientais e sociais que se relacionam e se definem. As outras dimensões da BE, a ética afirmativa do princípio de humanidade e a ética geradora de moral convencional permitem, por causa das demandas sociais e no sentido estratégico de definir o caráter da organização frente às condições do ambiente em que atua, que a organização escolha os conjuntos de princípios, valores e regras de comportamento moral – as atuações éticas possíveis – que resultam adequados para seus propósitos.

Esses conjuntos de princípios, valores e regras de comportamento moral respondem à necessidade social de regular e orientar as relações humanas de um determinado grupo social numa determinada direção. A realidade moral varia historicamente e, com ela, variam as práticas, princípios, valores e regras em vigor em determinado contexto histórico-cultural. Isso porque a vida moral compõe a dinâmica história humana de autocriação, no sentido de definir princípios de conduta, valores de bem e mal, permitido e proibido, recomendável e reprovável – relacionados com os valores individuais –, e regras de comportamento moral, entendido como consciente, responsável, baseado na liberdade de escolha e guiado pela vontade e pela razão. Assim, as pessoas são capazes tanto de interiorizar e legitimar valores, normas e princípios, como de criar novos. Assim ocorre com o indivíduo na organização, e com a organização no ambiente, todos inseridos num processo dinâmico de influência recíproca entre a cultura e os hábitos individuais, de um lado, e de outro os princípios, valores, regras de comportamento morais.

Esses princípios, normas ou valores de uma determinada moral, digamos a moral de uma organização, não precisam ter o rigor, a coerência e a fundamentação das proposições científicas, então vale lembrar que a ética, a ciência da moral, aborda cientificamente questões fundamentais como as relações entre responsabilidade, liberdade e necessidade, e as relações entre a estrutura social e seu código moral. Assim, a ética está relacionada à vida em sociedade, e, como cada cultura e sociedade instituem uma moral, a ética não formula juízos de valor sobre práticas morais em nome de uma moral absoluta e universal, mas explica a razão de ser da pluralidade e das mudanças. Desse modo, pode contribuir apenas de forma especulativa, para fundamentar ou justificar certa forma de comportamento moral, ao buscar concordância com determinados princípios filosóficos universais de uma moral cosmopolita, aqueles nos quais buscamos eliminar a agressão na relação com o outro, ao mesmo tempo em que procuramos manter a fidelidade a nós mesmos, a coerência de nossa vida e a inteireza de nosso caráter.

Entendida desse modo, a ética ilumina decisões organizacionais estratégicas para servir ao ideal da construção de práticas organizadoras corretas, para dar exemplo e testemunho de retidão, e tentar contribuir para uma sociedade sustentável, com práticas como ouvir os stakeholders (idealmente todo o planeta) e integrá-los ao processo de decisão, além de definir e mostrar (transparência) os critérios e valores que formam o caráter da organização, formando o hábito da atuação ética pela repetição das ações e decisões como expressão do caráter dos indivíduos no contexto organizacional.

Nesse sentido, as organizações têm, além da dimensão política da cidadania corporativa da responsabilidade social, uma dimensão ética de afirmação de seus valores na cultura, transformando esses valores em práticas. Entre as opções de atuações éticas possíveis, a organização tem a liberdade de escolher as que projetem sua imagem e que atendem à demanda do seu papel social. É para disseminar na cultura essa moral escolhida que as organizações constroem o ethos corporativo começando por si mesmas e tentando influenciar as condições do ambiente. Conforme essas condições do ambiente em que atuam, e sempre em tensão com elas e limitadas pelo que as circunstâncias permitem, as organizações têm a liberdade, vista como possibilidade objetiva, de escolher e tornar possível o conjunto de valores e as regras de comportamentos alternativos que resultam adequados para seus propósitos, ou seja, cada organização pode construir sua própria moral.

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